Se o meu grito ficou mudo
as minhas lágrimas
ressoam até aos surdos.
Se o meu peito está de luto
é pelo fato da minha dor
ser a nova máscara
que em pleno carnaval eu uso.
Se o medo marcou meus pulsos
é porque a face do terror
desfigura o mundo.
Se o meu beijo tornou-se impuro,
devo aos lábios que
ao me jurarem eterno amor
também me traem
enquanto eu durmo.
Entre confetes e serpentinas
eu desfilo as minhas fantasias.
E finjo durante quatro dias
que a minha dor
dá lugar a alegria.
Contudo, quatro dias
não são suficientes
para maquiar
todas as cicatrizes
de uma vida.
E já que as cinzas do meu rosto
não se disfarçam nem com tinta,
que venha a quarta-feira
com sua máscara de despedida.