21 maio 2012

Sertanejo Rock Star


Eu tava da roça descaçando
quando chega o menino 
me olhando atravessado
e começa a me falar:
- Mãe, é uma bateria 
o que eu quero ganhar,
pois eu quero ser um rock star!.
Vixe, Maria!
É cada coisa que a gente 
tem que escutar.
E aonde é que eu vou arranjar bufunfa
pra essa tal de bateria comprar?
-Ué, mãe! 
O jeito é vender o batará!

Com uma imensa dor no peito
fui vender o meu galinho.
Mas, dor maior do que 
a que eu estava sentindo
seria se eu desapontasse 
o pobre do meu menino.
Então, fui me embora pra cidade
e comprei a bateria 
numa loja de discos.
Quando cheguei lá na fazenda
a bateria, os homens, 
começaram a montar.
Esperei até cinco horas 
e fui lá na escola, o menino, pegar.
Entrando na sala e vendo a bateria
novinha em folha,
o menino começou a chorar
dizendo que eu era 
a melhor mãe do mundo.
Me diz se tinha como 
não me emocionar?!.

Tava tudo uma alegria
até a hora que eu pedi pra bateria 
o menino tocar.
De repente, foi um estrondo
que o meu ouvido começou a latejar.
Era barulho pra tudo 
que era canto
e eu corri pra beira da estrada 
mas mesmo lá,
ainda dava pra escutar 
a bataria que aquela bateria 
fazia na sala de estar.

Mas menino, essa bateria 
tá me deixando baratinada
de tanta bataria 
que eu tenho que escutar.
E eu não sei onde 
eu tava com a cabeça
quando eu vendi o meu batará
para realizar o seu sonho 
de ser um rockstar.
O meu batará que eu criei 
desde pequenininho
nunca fez uma bataria tão grande 
como daquela bateria
do meu filho sertanejo rockstar.
Só sendo mãe mesmo 
para uma coisa dessas 
ter que aguentar.

Mas se pra tudo nessa vida 
tem um jeito,
um jeito agora mesmo eu vou dar.
Peguei umas economias que eu tinha
e fui na casa do seu Clóvis 
pra recuperar o meu batará.
Com o restinho do dinheiro que sobrou
mandei construir uma caixa acústica
para todos os problemas solucionar.

Agora, o menino toca a bateria 
feliz da vida
jurando que é um sertanejo rockstar.
Eu poupei os meus ouvidos 
daquela bataria
que antes eu tinha que escutar.
E agora, lá na fazenda,
o único barulho que se faz ecoar
é o canto do meu galinho.
Ainda bem 
porque aquela bateria 
eu não ia mais aguentar!.

09 maio 2012

Luto


Na manhã do seu enterro, no céu, 
como se por desespero, 
nuvens carregadas 
espalharam-se deixando tudo negro. 
E negro era a cor do seu caixão 
e a do meu pesadelo. 

O sepultador, 
acostumado a abrir covas para defuntos, 
acha a morte banal 
mas pra mim, 
a morte é uma aberração, 
é um fato mais do que anormal. 
E enquanto o coveiro encravava a pá 
para cavar um buraco 
a sete palmos do chão, 
no meu coração, 
instantâneamente, 
um buraco também se formava 
tornando tudo o que foi felicidade 
numa completa desolação, 
pois dentro da cova 
além do seu corpo 
jaz também 
um pedaço do meu coração. 
E agora nada mais me resta 
a não ser a dor e a solidão. 

Vou caminhando 
lentamente pela escuridão 
e sinto os urubus me espreitando 
atiçados pelo mau cheiro da carniça, 
não do meu corpo, 
mas da minha alma 
já em decomposição. 
Tornei-me um moribundo, 
um ser vegetativo 
sem ter qualquer noção, 
razão, sensação. 
Sem ter praticamente um coração, 
que já bate a fio, 
quase sem pulsação, 
esperando a qualquer momento 
dar o último suspiro 
 pra se livrar de vez do luto que pesa, 
do luto que me enverga, 
do luto que me derruba no chão, 
do luto que eu luto 
para transformar em renovação... 

 Ai, como é triste a solidão!.