Na manhã do seu enterro,
no céu,
como se por desespero,
nuvens carregadas
espalharam-se
deixando tudo negro.
E negro era a cor do seu caixão
e a do meu pesadelo.
O sepultador,
acostumado
a abrir covas para defuntos,
acha a morte banal
mas pra mim,
a morte é uma aberração,
é um fato mais do que anormal.
E enquanto o coveiro encravava a pá
para cavar um buraco
a sete palmos do chão,
no meu coração,
instantâneamente,
um buraco também se formava
tornando tudo o que foi felicidade
numa completa desolação,
pois dentro da cova
além do seu corpo
jaz também
um pedaço do meu coração.
E agora nada mais me resta
a não ser
a dor e a solidão.
Vou caminhando
lentamente pela escuridão
e sinto os urubus me espreitando
atiçados pelo mau cheiro da carniça,
não do meu corpo,
mas da minha alma
já em decomposição.
Tornei-me um moribundo,
um ser vegetativo
sem ter qualquer noção,
razão, sensação.
Sem ter praticamente um coração,
que já bate a fio,
quase sem pulsação,
esperando a qualquer momento
dar o último suspiro
pra se livrar de vez do luto que pesa,
do luto que me enverga,
do luto que me derruba no chão,
do luto que eu luto
para transformar em renovação...
Ai, como é triste a solidão!.
Nenhum comentário:
Postar um comentário