09 maio 2012

Luto


Na manhã do seu enterro, no céu, 
como se por desespero, 
nuvens carregadas 
espalharam-se deixando tudo negro. 
E negro era a cor do seu caixão 
e a do meu pesadelo. 

O sepultador, 
acostumado a abrir covas para defuntos, 
acha a morte banal 
mas pra mim, 
a morte é uma aberração, 
é um fato mais do que anormal. 
E enquanto o coveiro encravava a pá 
para cavar um buraco 
a sete palmos do chão, 
no meu coração, 
instantâneamente, 
um buraco também se formava 
tornando tudo o que foi felicidade 
numa completa desolação, 
pois dentro da cova 
além do seu corpo 
jaz também 
um pedaço do meu coração. 
E agora nada mais me resta 
a não ser a dor e a solidão. 

Vou caminhando 
lentamente pela escuridão 
e sinto os urubus me espreitando 
atiçados pelo mau cheiro da carniça, 
não do meu corpo, 
mas da minha alma 
já em decomposição. 
Tornei-me um moribundo, 
um ser vegetativo 
sem ter qualquer noção, 
razão, sensação. 
Sem ter praticamente um coração, 
que já bate a fio, 
quase sem pulsação, 
esperando a qualquer momento 
dar o último suspiro 
 pra se livrar de vez do luto que pesa, 
do luto que me enverga, 
do luto que me derruba no chão, 
do luto que eu luto 
para transformar em renovação... 

 Ai, como é triste a solidão!.

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